No ano de 1987, um grupo de empregados em entidades sindicais de Brasília decide criar uma associação para discutir seus direitos e ter uma representação jurídica nas suas relações com os empregadores. Eram trabalhadores do SAE, Sindicatão (hoje SINDSAÚDE), Rodoviários, Vigilantes, Radialistas, SINDPD-DF, Eletricitários (hoje, STIU), Bancários e Engenheiros. Muitos dos companheiros que compuseram a primeira direção da associação, hoje não se encontram mais trabalhando no movimento sindical, por opção ou por demissão. Outros resistem bravamente.
No início, os sindicalista patrões ficaram na defensiva, outros debochados e alguns ameaçadores. Demissões por causa do SINTES foram concretizadas na época, o que mostra que a luta dos trabalhadores é sempre árdua, mesmo que seja no terreno dos “companheiros”.
Nossas reuniões aconteciam à noite em alguma entidade sindical mais camarada e nos finais de semana, muitas vezes ao ar livre, no gramado entre a torre de TV e o planetário. Muito tempo depois é que foi possível alugar uma sede.
A Associação – ATES (Associação dos Trabalhadores em Entidades Sindicais)
Foi a base do Sindicato dos trabalhadores em entidades sindicais no Distrito Federal (SINTES-DF), que foi criado no dia 27 de Abril de 1988, o primeiro em todo o país. A carta sindical, entretanto, só foi concedida em 8 de março de 1990 (veja fac-símile).
Posteriormente, buscando ampliar sua base de atuação, amparado na legislação, o SINTES-DF alterou seu estatuto, passando a representar os trabalhadores permanentes ou temporários em sindicatos, federações, confederações, centrais sindicais, cooperativas e em associações.
Nesse período, pode-se afirmar, o SINTES-DF obteve importantes vitórias para a categoria, como as assinaturas de inúmeros acordos coletivos e convenções coletivas de trabalho, garantindo reajustes, tíquetes alimentação/refeição, estabilidade no emprego, licença prêmio e outros benefícios obtidos nas campanhas da sua entidade empregadora.
Em todo esse tempo, o SINTES esteve engajado nas grandes lutas populares, como impeachment do ex-presidente Fernando Collor, a marcha dos cem mil, apoio à reforma agrária e manifestações na Esplanada dos Ministérios contra atos do governo ou do Congresso contrários aos interesses dos trabalhadores.
O SINTES-DF enfrentou duras negociações com os sindicalistas patrões aqueles que pregam em seus discursos a igualdade, melhores salários e outras bandeiras de luta, mas fazem o contrário com os empregados de suas entidades. Com o diálogo, vencemos várias resistências, entre as quais o não reconhecimento de nossa entidade por alguns sindicatos. A consolidação do SINTES-DF é fato, principalmente depois da última eleição, democrática, transparente, com duas chapas. Venceu a chapa 1.
Dificuldades nas negociações
Embora o nosso papel dentro dos sindicatos seja o de dar suporte para as direções travarem suas lutas em defesa dos trabalhadores, e para isso somos peças importantes, dentro de casa a situação era bem diferente. Os trabalhadores de sindicatos raramente tinham acordo coletivo de trabalho, a relação entre patrões e empregados era de companheiros na maioria das vezes, mas começamos a perceber que o que eles defendiam em sua base, eles não aplicavam aos seus empregados. Jornadas de trabalho estafantes eram rotina, tudo, é claro, em nome da luta de classes. Afinal, estávamos do mesmo lado. Será? Logo percebemos que não, quando passamos a nos reunir e descobrir que o companheirismo em muitas entidades era uma fachada. Trabalhadores sofriam perseguições e assédios e em nome da luta se calavam, outros eram demitidos arbitrariamente e algumas entidades sindicais tinham e tem o costume bem patronal de substituir funcionários, contratando o dobro deles por salários pela metade. Ou seja, não importa a qualidade e sim a quantidade, ou pior, seguem fielmente a cartilha do patrão, esse mesmo patrão que eles juram combater.
Foi nesse clima que começamos nossas primeiras negociações. Alguns diretores riam das nossas pautas de reivindicações, esquecendo-se que aprendemos com eles a reivindicar e a negociar, outros ficavam magoados. Foi uma época difícil, mas não podemos esquecer que tivemos também muitos diretores apoiando nossa luta e o nosso direito de reivindicar.